domingo, 10 de agosto de 2008

O bom moço e seus vulcões

Nos encontramos na noite de sexta-feira. Ela estava deslumbrante em seu tomara-que-caia vermelho acetinado. Olhos pintados e lábios carnudos saltando à face. Eu vinha direto do trabalho, então eu estava muito suado. E para agravar, durante a semana inteira não tinha conseguido fazer a barba. Não estava na minha melhor imagem, confesso, mas isso não pareceu preocupar Paula. Atirou-se em meus braços e me beijou como se fosse o último dia de nossas vidas. Contraiu todo seu tenro corpo no meu. Senti um arrepio em toda a espinha da coluna e um fogo começou a subir pelo meu corpo. Não pude fazer nada além de me deleitar naquele corpo maravilhoso através daquele abraço, o pagode já estava lotado quando eu cheguei. Pra variar me atrasei, mas desta vez muito mais que de costume. Estive até mais tarde no trabalho aguardando a saída da Carol, a nova auxiliar de contabilidade. Propus-me levá-la no ponto de ônibus. Aquela bundinha linda, pequena, me deixa louco. Não perderia a oportunidade de acompanhá-la. Insisti muito para que ela deixasse, então mesmo com o compromisso com Paula, não podia perder aquela chance de uma maior aproximação. Coloquei em prática todos os preceitos do manual do conquistador barato. Fui cortês, simpático e compreensivo. Ouvi suas conversas tolas sobre família, trabalho e faculdade. Falhei num ponto somente, não conseguia controlar meu olhar para aquele corpinho miúdo e fascinante, mas acredito que ela não tenha percebido. Manteve-se falante com seus olhos brilhantes até que o ônibus veio e eu puxei-na e beijei-lhe a testa, sinal de respeito e boas intenções. Ela ficou extremamente encabulada; não esperava aquele tipo de despedida. Isso me fez rir por dentro, sempre me fascino com meu poder de sedução e magnetismo. Mas retornando à Paula, Paulinha... Minha deliciosa menina de 19 aninhos. Meu doce, meu sonho, meu anjo. Se eu fosse capaz de amá-la, amaria. Mas não a amo. Não que eu seja mau, não quero ser mal interpretado. É que uma menina de 19 anos tem uma mente vazia demais para um homem experiente como eu. Não é burra, mas não é uma Mulher ainda. Menos ainda uma mulher para que um homem como eu venha a amar. Paulinha é meu ideal de mulher nesse sentido: corpo perfeito e rosto iluminado. Por enquanto, isso me basta. Para ela me dedico por inteiro, ofereço o meu melhor e realizo seus desejos. Ela me ama, não tenho dúvida, não tenho dúvida. É um doce que se deleita aos poucos e aos pequenos bocados, lambendo os dedos para que não acabe tão logo. Tenho paciência, ainda não a tive inteira para mim, porque sei esperar. Se eu quisesse já a teria possuído. A vida me ensinou algumas coisas. A paciência foi uma delas. Antes quero tê-la em alma antes de tê-la no corpo. Aprendi ainda com a vida: conquiste um corpo e terás um corpo; conquiste uma alma - um coração - e terás tudo! O melhor que a pessoa tem para oferecer será seu sem que dê algo em troca. Eu quero o melhor de Paula. E ensinarei o que for necessário para que o melhor dela supere o de todas as mulheres que já conheci. Sei que o final dessa historia possa não ser o melhor para ela, mas me agradeceria se pudesse pensar logicamente. Estarei e já estou ensinando conhecimento que lhe será útil até o final de sua vida. Gosto disso em Paula, ela é capaz de aprender. Devagar e demoradamente, mas em contrapartida me delicio mais no aprendizado. Claro que ela sabe nada disso, sequer lhe passa à mente. Isto é, ao coração, centro motriz de sua existência. Ela ignora, e é incapaz de conjeturar tais pensamentos. Altos demais para ela, para mim, apenas faísca da lava adormecida no centro de um vulcão. A propósito, naquele mesmo dia em que levei Paulinha para sambar e pagodear no Terreirão do Samba, conheci Clara. Um vulcão, mulher, linda, gostosa, boa, segura, forte, incrível. Dei o meu telefone para ela, mulher desse tipo não se pode ir atrás. Sequer tentei conseguir seu telefone, seria inútil ligar para ela. Dessas só se encontra por interesse próprio, não são facilmente reconhecíveis senão por sua vontade. Por exemplo, se Clara me quiser, me ligará, porque se ela não quiser não haverá nada, realmente nada no Universo que a persuada do contrário. Então aguardarei pacientemente, e a vida continua. Mulher como ela conheci uma vez na vida. E que estrago foi aquele! Posso rir agora, antes apenas gemia de dor. Todo e qualquer fenômeno destrutivo da natureza seria inútil para designar o poder daquela mulher. Porra, e que mulher... Desde então sequer pronuncio seu nome. Não gosto, eu sou supersticioso. Entretanto estou louco para viver aquele delírio novamente. Desejo isso faz anos. Então o que faço com as minhas mulheres é transformá-las em vulcões com os quais eu possa me queimar por inteiro. Não é fácil. Até hoje não consegui fazer isso com nenhuma. Não sou incompetente. Elas temem serem fortes, não sei por que. O maior prejudicado serei eu, e qualquer um que atravessar o caminho delas, mas elas parecem não querer se emancipar e se tornar algozes no meu prazer e do meu sofrimento. Elas preferem a submissão à agressividade, o olhar ao chão à sedução, o sorriso constrangido à gargalhada. Paula por fora é um vulcão do Fogo (Ilha de São Miguel – Açores), corpo avassalador, olhar penetrante, por dentro, aff... Me dá vontade de rir. Por dentro a Lagoa do Fogo, no entorno no vulcão, menina de 19 anos que ainda não abandonou suas bonecas. Por isso espero, não quero violentá-la, não no sentido físico, afinal ela não é mais uma virgenzinha. Não quero violentá-la no sentido de fazê-la saber prematuramente que não é mais a menina que acredita ser, que brinca de bonecas. Farei com que ela se veja como o mundo a vê. Uma mulher incrível, um vulcão pronto para entrar em erupção. E estarei ali na base daquele vulcão, pronto para me derreter em seu magma flamejante.

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