sábado, 25 de outubro de 2008

VALOR E PODER: duas armas contra a violência à mulher

Karla Rodrigues Gregório


A violência contra a mulher consiste no dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico, a partir da diferença de gênero. Ou seja, a violência contra a mulher não se constitui apenas daquela explícita. Há violência implícita nos vieses e recônditos do cotidiano feminino.
Seja no âmbito doméstico ou profissional, a violência contra a mulher se faz presente. Em casa, além daquela que é física, existe a psicológica. Através do assédio moral, o cônjuge ou parceiro, acreditando gozar de direito, “manda” em sua parceira. Gerencia-lhe desde os argumentos proferidos às vestimentas. Ela não tem voz própria, nem direito à opinião.
Já no trabalho, em casos comuns, uma mulher ocupando o mesmo cargo que um colega do gênero oposto recebe menos proventos. Entretanto, já que designada ao cargo, fica ratificado que possui a mesma ou maior capacidade para exercer a função.
Essas diferenças no tratamento do ser feminino são amplamente nocivas. Não somente constituem injustiça contra a mulher, mas violência implícita, velada, também, conforme os dois exemplos acima.
Através de seu parceiro ou empregador, a mulher é exposta no dia-a-dia à informação equivocada que seu valor é menor ou nulo em relação ao do gênero oposto. Isso incute nela submissão à voz masculina. Ele é quem tem valor, acredita. Silenciada a sua voz nos recônditos do seu cotidiano doméstico ou profissional, ela entra num ciclo em que sua submissão aprendida legitima a opressão do outro.
Uma via profícua para dirimir toda violência contra mulher é conscientizar a todas e cada uma delas sobre seu valor e poder. Quando toda mulher tomar posse dessas duas verdades inerentes ao seu ser, as medidas paliativas serão menos necessárias. Elas saberão se defender sozinhas.

Abri mão

Abri mão dos meus sonhos e das minhas idealizações infantis. Fechei a porta do meu mundo encantado onde pensamentos e divagações se pretendiam (re)produção fiel da realidade.
Joguei fora as canções de ninar que embalaram meu cochilo no regaço do lar.
Disse adeus a papai e mamãe que eu mantive unidos na imaginação.
Fiz as pazes com minha irmã, aquela que nasceu comigo e mora em mim, pois ela também sou eu.
Passei a me ver no espelho, tal como sou. Não mais menina, mulher. Assumi os riscos de viver uma vida adulta, com responsabilidades, medos e possíveis frustrações. E com isso, o prazer inestimável das grandes realizações.
Abri mão por mim e para mim, mas sabendo que assim serei real e de carne e o osso para o outro. Assim serei eu.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Carta a Don Juan

Saudações, meu caro amigo Don Juan.

Não sei os pormenores de sua vida, devido a sua postura reservada. Tampouco tenho conhecimento de seus negócios e empreendimentos durante o tempo em que esteve por aqui. Tenho conhecimento que é um exímio jogador de cartas e um amante das bebidas fortes, algo que temos em comum.
No entanto, percebo que passou despercebida aos meus olhos a mais significativa de suas habilidades: amar mulheres. Estou cometendo algum juízo equivocado? Diga-me, amigo, se for este o caso. Senão, prossigo.

Antes de sua saída não tinha notado essa aptidão sua. Agora percebo e sinto isso, já que há uma nostalgia no ar de Vila Santa Verônica desde sua partida.
As mulheres, nossas mulheres, já não são as mesmas. Seus olhares não são os mesmos desde que a nau Guilhermina se pôs em alto-mar levando-te Atlântico além. Vivem lânguidas e inexpressivas. As vestimentas das jovens não estão mais coloridas. Nem brilham mais seus lábios. Seus cabelos ficam desaprumados à revelia do vento durante todo o dia. As senhoras, elas já não cantam à beira do rio enquanto labutam suas tarefas domésticas. Por isso não encantam sequer os vendedores vindos dos mais pobres vilarejos. Seus semblantes estão curtidos. Envelheceram cinco anos em um mês, desde sua partida.

Particularmente, confesso, adoraria consolá-las. Abriria mão de minha fidelidade estrita a minha amada Carolina das Flores. Contudo, amigo meu, não me dão oportunidade de aproximação seque. Não dão oportunidade a ninguém. Já não têm olhos para homem algum. Não se sentem lisonjeadas com galanteios e cortejos de mais nobres partidos da redondeza. As senhoritas, ao que me parece, estão fadadas ao convento, e as senhoras ao divórcio.

Caríssimo, não desejo parecer-te impertinente, sabe que não gozávamos de muito estreita amizade. Mas, em nome da admiração que já nutria por ti e tu bem o sabes que agora ainda mais, diga-me o que fizestes a estas mulheres? O que tu tens? O que dizias e fazias a elas? Que acontecimentos se passaram embaixo de meus olhos sem que os pudesse ver?

Nas tabernas próximas ao cais não se comenta outro assunto. Todos os homens estão em polvorosos, preocupados, alguns mesmo zangados... Ninguém oferece resposta para tal mistério. Eu, o mais audacioso de todos, resolvi procurar-te para esclarecer contigo os acontecimentos que envolvem as mulheres e você, meu amigo, neste vilarejo.

Saúdo-te,
Luiz Antônio das Couves.

domingo, 19 de outubro de 2008

PÁSSARO ENCANTADO (Rubem Alves)

Era uma vez uma menina que tinha como seu melhor amigo, um Pássaro Encantado. Ele era encantado por duas razões:
Primeiro porque ele não vivia em gaiolas. Vivia solto. Vinha quando queria. Vinha porque amava.
Segundo, porque sempre que voltava suas penas tinham cores diferentes, as cores dos lugares por onde tinha voado.
Certa vez voltou com penas imaculadamente brancas, e ele contou estórias de montanhas cobertas de neve. Outra vez suas penas estavam vermelhas, e ele contou estórias de desertos incendiados pelo sol. Era grande a felicidade quando estavam juntos. Mas sempre chegava o momento quando o pássaro dizia: "Tenho de partir."
A menina chorava e implorava: "Por favor não vá fico tão triste. Terei saudades e vou chorar..."
"Eu também terei saudades", dizia o pássaro. "Eu também vou chorar. Mas vou lhe contar um segredo: eu só sou encantado por causa da saudade que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for não haverá saudade. E eu deixarei de ser o Pássaro Encantado e você deixará de me amar."
E partia. A menina sozinha, chorava. E foi numa noite de saudade que ela teve a idéia: "Se o Pássaro não puder partir, ele ficará. Se ele ficar, seremos felizes para sempre. E para ele não partir basta que eu o prenda numa gaiola."
Assim aconteceu. A menina comprou uma gaiola de prata, a mais linda.
Quando o pássaro voltou eles se abraçaram, ele contou estórias e adormeceu.
A menina, aproveitando-se do seu sono, o engaiolou. Quando o pássaro acordou ele deu um grito de dor.
"Ah! Menina...que é isso que você fez? Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias. Sem a saudade o amor irá embora..."
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por acostumar.
Mas não foi isso que aconteceu. Caíram suas plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de cantar. Também a menina se entristeceu.
Não era aquele o pássaro que ela amava. E de noite chorava pensando naquilo que havia feito com seu amigo...
Até que não mais agüentou. Abriu a porta da gaiola. "Pode ir, Pássaro", ela disse." Volte quando você quiser..."
"Obrigado, menina", disse o Pássaro. "Irei e voltarei quando ficar encantado de novo. E você sabe: ficarei encantado de novo, quando a saudade voltar dentro de mim e dentro de você!

(Aprendizagem, predicativo para viver)

Hum... estou aqui no meu escritório. Tenho um cigarro nas mãos, e cinza no peito. Vou dizer o que aconteceu:
Ela acordou um dia e entendeu tudo: ele era pleno de si, prescendia de todos, e nisso residia sua força. Paula compreendeu claramente. Ele tinha a força que ela desejava ter, no entanto tímida era sua coragem.
Para ser honesto, posso dizer que ela já gozava dessa força e foi isso que a fez se aproximar dele. Os fortes se atraem.
Não sei se ele, Ricardo, sabe disso. Eu sei. Eles se atraíram pela força incontida que se agita em seus interiores. Força única de mesma substância e natureza.
Ele conhece sua própria força, ele conhece também a dela, mais que ela própria. No entanto, um dia ela acordou e descobriu. Descobriu pela experiência que não precisava de nada. Constatou que, assim como ele, podia escolher as pessoas de seu convívio, e já o fazia. Ela foi além, se permitiu mais.
Sentiu sua força se agitar em seu interior, sentiu seu corpo como sendo ela própria, o templo de sua alma. Percebeu que não era mais duas. Era única e realizada. Sentiu sua força e viu sua coragem dissipando medo e receio que permearam sua existência.
Quando vi toda essa sua conquista, senti grande orgulho. E constatei que já não precisaria mais de mim.
Brotou-me, homem forte, esclarecido e resolvido, incômoda nostalgia e tristeza. Eu queria fazê-la forte, mulher, vulcão. Consegui. Entretanto, agora se fez hora de partir. Semeei consciente que cuidava de um jardim do qual não colheria flores ou frutos. Tarefa cumprida. Os méritos mais nobres são dela. Ela chegou onde queria chegar, onde devia chegar. Continuará, não irá parar. E já poderá ir sozinha. Descobriu ter tudo de que precisa para sobreviver. Os mais fortes sempre sobrevivem.
Talvez ela vá acompanhada, talvez não. Isso não me importa. Aff! Sinto um resquíssio de dor despontar em mim. Sinto ciúmes dela, minha Paula, meu vulcão... Estou em carne viva, flamejando por me ter banhado em sua lava. Estou feliz.
Confesso, num momento do aprendizado quis interromper e tê-la ali somente para mim. Essa foi uma grande tentação. Se eu fizesse isso, no entanto, se interrompesse o aprendizado dela para mantê-la comigo, não teria mais razão senti-la em meus braços. Sufocaria, com isso, seu suspiro puro e intenso. Atrofiaria suas asas. Livre, ela está feliz e plena. Isso é o importante.
Se fez mulher, embora tenha se esforçado muito tempo para ser uma menina. É mulher feita e formada, que pode escolher, como o vento, aonde soprar. Assim como o Pássaro Encantado* precisou estar livre para viver. Como ele, suas penas continuarão a brilhar coloridas e quem sabe voltará para pousar breve em meus braços algum dia.
Minha pequena, garotinha e menina, virou mulher. Não sei o que fazer agora...
Hum, tive uma idéia... Vou parar de ficar divagando igual a um retardado. Vou ligar para Letícia. Convidá-la para um chopp. Talvez depois de uns choppinnhos role um sexo gostoso. Esta mulher é um tesão!
*O Pássaro Encantado é personagem da literatura de Rubem Alves. O pássaro era encantado porque não vivia em gaiola, vivia solto, vinha quando queria e porque amava. Tinha as penas coloridas com cores diferentes, cores dos lugares por onde tinha voado. Contava histórias dos lugares para sua amiga, uma menina, que decidiu prendê-lo numa gaiola a fim de tê-lo sempre perto de si para que fossem felizes juntos e para sempre. Com isso, o pássaro perdeu suas penas, esqueceu suas histórias e ficou de cor cinza. Foi quando a menina percebeu o mal que lhe tinha causado e o libertou de sua prisão.

Passamos por momentos de angústias, angústias de vida com razão ou sem motivo aparente. Nosso coração fica pesado e um nó se instala na garganta. Procuramos razões para justificar tal angústia, caçamos um culpado para o mal que nos atinge e que a principio não tem explicação. Com isso progetamos esse desconforto em algo que não necessariamente o provocou: à família, ao trabalho, ao amigo, à namorada. Tentamos entender o que se passa conosco nos mínimos detalhes e nos equivocamos.
Isso se deve ao simples fato que não gostamos de nos deparar com o nosso desespero humano. Digo isso numa linguagem acessível, tendo em consideração o pensamento do filósofo existencialista Kierkgaard. Contudo trago para participar dessa (digressão) alguém caro e especial: Henri Nouwen, um pensador que não raro se faz oráculo divino no meu dia-a-dia.
No que tange angústia, desespero e desconforto no coração, Nouwen nos prescreve: busque a solidão do seu coração. Não busque no outro o alívio do mal estar que é seu. Através desse mesmo mal estar, na solidão do seu coração, você tem oportunidade de encontrar Deus, estar pleno nele e não sufocar aqueles que estão em sua volta.



É na solidão do nosso coração que encontramos abrigo e acolhimento. Ser humano algum no mundo pode nos oferecer isso plenamente.
A busca por respostas, a busca quando incessante, desenfreada e impulsiva, apenas nos afasta do único lugar onde devemos estar: em nós mesmos. O medo do confronto com os medos e aflições interiores faz que tentemos fugir de nós mesmos, fugir do encontro com a fonte verdadeira de nossas dores e aflições. Essa fuga nos encaminha cegamente a paliativos que nos iludem quanto a solução de nossa angústia e somente a aumenta. Isso desdobra em problemas no cotidiano, pois nos frustramos com o outro, com nosso próximo, com nosso conjuge, amigo ou irmão. Se não pararmos para dar ouvidos à voz de nossos corações, não entenderemos que a confusão e os problemas externos são reflexos de conjunturas íntimas, que devem se tratadas com carinho e cuidado, por nós mesmos. Nesse espaço de solidão, solidão que não é negativa, é positiva e necessária, nos deparamos com nossos fantasmas. E são momentos como esses favoráveis à manifestação divina, ao encontro com o Outro Supremo, o Criador, o Pai, o Consolador, Amigo Fiel. São nesses momentos que ouvimos a voz do Espírito Santo e sentimos sua proteção. É exatamente nesse momento de fraqueza e inquietação que podemos suplantar nossas limitações e caminhamos um passo a mais em direção a plenitude de vida, perfeição.



Portanto, não fuja de si, de sua angústia, de seu medo. Convide ele para sentar-se e confronte, dê a si oportunidade de enxergar a força que possui, e se em algum momento a sua for insuficiente, confie em Deus que não desampara um sequer de seus pequeninos.



Paz, amém.

Livrai-nos do mal

Hoje acordei e saí de bicicleta. Era cedo, fui percorrer a comunidade num dia cinza nublado. Começou a cair uma chuva fina.
Passei por muito lugares presentes na lembrança. Em frente à igreja onde faria primeira comunhão voltei no tempo por instantes, então adentrei seu pátio. Desci da bicicleta e me sentei na bancada na lateral do antigo templo. Podia dali ver o cruzamento por onde passavam pessoas, carros, reflexões e lembranças. Notei na bancada um pequeno caracol se movimentando, carregando sua casa. Pensei em mim, no caracol e na vida minúscula que não enxergamos a olho nu, mas está em toda a parte.
Tavez para aquele caracol eu era um Deus, ali ao seu lado. Maior, onipotente, do qual ele não podia chegar ao conhecimento pleno.
O sacristão passou e me cumprimentou com um bom dia, ao que respondi. Continuei a pensar e quando vi eu rezava a oração do Pai Nosso. Em sua última cláusula percebi que pedia "livra-nos do mal, livre-nas do mal, livre-o do mal, livre a todos nós do mal, amém". O único pensamento que tive de "mal" foi o que podemos fazer uns aos outros em intenção. Esta é a maldade suprema pois não há intenção, não há culpa ou culpados. Este é o mal do qual não podemos nos livrar por conta própria. Por isso devemos rogar a Deus por sua ajuda. E quando pedi que nos livrasse a todos do mal, pedia do mal que somos capazes de fazer sem intenção. Repito: é desse mal que somos incompetentes de nos desvencilhar.
Nisso se aproximava um senhor com a liturgia da missa em mãos. Olhou-me e estendeu-me sua mão. Retribuí-lhe o gesto e o cumprimentei. Ele continuou seu caminho. Quando notei, ele iria se sentar na mesma bancada. Num reflexo instantâneo chamei: "moço, não!" Estiquei o braço e o empurrei com uma das mãos.
Por pouco, aquele senhor sentaria sobre o caracol. Talvez o matasse, certamente o machucaria, sem intenção. Houve ali, entretanto, uma teofania*. Deus livrou aquele homem do mal. Livrou ambos, o homem e o caracol.

*Teofania é um conceito de cunho teológico que significa a manifestação de Deus em algum lugar, coisa ou pessoa. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Teofania)

sábado, 18 de outubro de 2008

Mesmo sem motivo para escrever
Sem ter o que falar
Não entendo o que eu sinto; eu vou dizer
Aquilo que me faz parar

Quando olho, não quero ver
Mesmo sem saber, não dá para acreditar
É verdade o que sinto por você
Ou será mera ilusão criada para sonhar?

De verdade quero este amor? Prefiro eu que ele venha acabar?
É difícil isso saber. Muito difícil interpretar

Vou continuar a sofrer? Por que a ser feliz não quero me habituar
Luto com o que sinto e ainda luto por você
Luto por algo que não imagino o que será

Minha voz, meu corpo, minha alma querem você
Minha mente, de ti se separar
Como pode esta luta? Quem irá vencer?
Estarei por perto ou irei me afastar?

Mulher que sou, maluca que sei
Amo-te e não quero essa realidade vivenciar
Segura estou longe de ti, não quero a isso ceder
Prefiro a segura solidão à incerteza de amar

Não findo por aqui, há mais o que dizer
Não encontro palavras certas para dissertar
Faço perguntas às quais não posso responder
Cheguei à conclusão, opto por continuar...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

SEM TEMPO PARA DIVAGAR
SEM ENERGIA
SEM INSPIRAÇÃO
VAZIA
AFF... : (

domingo, 12 de outubro de 2008

Biografia

Aceitar aceitando Aceitar Aceitar

Minha biografia
Minha vida

Estou aqui com um vazio grande no peito
Ouço uma canção de amor e sofro a minha dor
Sofro alegre a dor de amar
A dor de desejar
A dor de oferecer liberdade ao ser que de mim é enamorado
Dor de sermos dois, quando eu gostaria que fôssemos um

Pergunto para mim e para Deus
Pergunto para Deus, pergunto para o mundo: Por que?
E não há resposta.
Sinto o silêncio da canção tocar meu rosto
Ouço minhas lágrimas escorrendo no coração

Ouço minha razão dizer serenamente: calma, vai ficar tudo bem. eu cuido de você.
Aí lembro que tudo que eu preciso, eu tenho. E que sou o bem mais importante da minha vida. E que sou amada e que amo a despeito de qualquer circunstância. Amo poder ver quem amo livre, livre, livre para voar. E regozijo ao saber que ele goza de uma liberdade que sempre almejei ter, e que ainda não tive coragem de exercer.

E também lembro que de tudo, ficarão as melhores lembranças: seu lábios de frigideira, seus olhos esbuticados, seu jeito sem jeito de dançar.

Mas ainda eu choro, choro, choro. Meu coração dói, dói. Dói.
Faço catarse através do grito e me liberto na escrita. Escrevo, escrevo com dor e alegria. Alegria de ser mulher, dor de ser mulher, alegria de amar, dor de amar. Mas sei que tudo valeu a pena, cada lágrima, cada sorriso, cada beijo, cada conversa, cada telefonema, cada birra. Tudo, tudo e tudo valeu a pena. Ser protegida, beijada, tocada por um outro assim como eu: perdido no breu, tateando no escuro, buscando o caminho, o melhor para viver.

Obrigada, Senhor.

sábado, 4 de outubro de 2008

A busca

Ele nunca tinha feito qualquer promessa. Jamais disse para sempre, e nunca se ausentou. Estava ali para tudo, todos os momentos, sendo o berço onde Diana podia ninar. Ele era seu protetor, seu anjo da guarda, manta nas noites de frio. Ela isso não sabia. Demorou para perceber. Ele era quem ela queria, tinha tudo que ela precisava. Sempre o teria. Ele era a segurança de deitar e ter bons sonhos, sem pesadelos, sem dores. Embora soubesse: a realidade traria sonhos ruins. Ele ali para abraçá-la nos momentos de terror. Sempre esteve. Diana Fênix demorou, mas percebeu que procurou em lugares errados, pessoas erradas, definições erradas. Ele sempre ali de seu lado aceitando seu delírios, aventuras e divagações. Cúmplice, compassivo, irmão, amigo... Ela se levantou imediatamente e correu para o telefone, pois precisava dizer-lhe tudo que acabara de descobrir sobre os dois. Era ele o amante que buscava encontrar em homens sem alma, em lugares sem amor. Ele atendeu o telefone, ela chorou... chorou e chorou...

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

APoLo e DiOníSio

Ela queria nascer e ele queria vê-la
A outra não gostava da idéia, mas pouco pôde fazer
Ele sabia o segredo da assumpção e fez com que ela surgisse
Ela surgiu com sutil sagacidade
A outra não quis saber, concedeu o espaço que ela precisava
Ela chegou nem tímida nem ousada, chegou e se apropriou de um espaço que sempre foi seu
Chegou e não iria mais embora pois aquela era sua casa
A outra não se portou como anfitriã
Não sabia como se comportar
Permitiu que ela estivesse ali
Como se ela fosse a outra, a própria
E a verdade é que era,
Uma, duas mulheres
Apolo e Dionísio
Vivendo lado a lado