segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Mundo antenado

Ouvi diversas vezes: cresça, torne-se adulta, deixe de lado os modos de meninas, já está na hora de se tornar uma mulher...
Tantos imperativos, muitas orientações, sugestões às vezes ridículas, hoje posso  ver. Olhava de baixo o mundo, com os olhos voltados para o alto, buscava entender.

Por vezes passamos tempo demais procurando entender e explicar e esquecemos de, junto a isso, simplesmente viver.

Ligo a televisão, propagandas simulam a vida, se propõem realidade. Eu assisto, vejo e me pergunto: o quanto daquilo somos nós? Já tive a vontade de viver nos comerciais de televisão.
Não naqueles que avisam dos males do tabagismo ou advertem quanto a acidentes de trânsito. Gostaria de viver nos comerciais de chinelos, refrigerantes, crédito financeiro. E, aos finais de semana, gostaria de passar os dias nos comerciais de cerveja. Tirar férias em comerciais de protetores solar e encontrar um cara legal nos comerciais de creme dental ou desodorantes.
Desligo a Tv.

Por vezes passamos tempo demais procurando entender e explicar e esquecemos de, junto a isso, simplesmente viver.



Vou para a janela, assisto o mundo... Como ele é? O mundo está errado.
Desconheço tudo o que se passa a minha frente. Parece fantasia, um mundo de ilusões e mentiras. Saio e fecho a janela. Volto para a Tv, e assisto. Vejo a realidade. E por isso fico ali onde tenho contato com o que é real, verdadeiro.

Por vezes passamos tempo demais procurando entender e explicar e esquecemos de, junto a isso, simplesmente viver.


Vida que se baseia naquilo que vejo, assisto. Em torno disso giram conversas e amigos.
Faço silêncio. Já não pergunto mais, não questiono. A realidade está na antena ali na sala. Absorta, participo de um mundo de comerciais, pessoas bonitas, sorridentes e felizes. Ninguém mais me adverte a crescer e a amadurecer. Muitos estão satisfeitos com minha apatia. Cresci, amadureci, tornei-me comum, e isso agrada a todos.