Ele amava aquela múmia. Muda, mulher, mulambo.
Ele a amava antes, desde antes.
Agora não sabia mais.
Não queria saber.
A culpa transbordava-lhe na fronte.
Não era o que queria. Era. Mas não ponderou as consequências.
Sua mulher estava morta.
Muda, múmia, mulambo.
Sua voz a matou.
Mulher morta, morta em sua vida de amor.
A grandeza reduzida ao pó. Poeira no sarcófago do silêncio.
Nos braços imóveis, abraços de dor.
Ele a queria, mulher linda, forte e perfeita que era.
Queria a volúpia de seus movimentos e
a assimetria de seu corpo.
Era o que queria, era o que nela amava.
Mas infelizmente não sabia. A enfaixou.
Começou pelos braços, cabeça e pés.
Queria nela a perfeição ter.
O desejo, a ambição que só sob seus olhos tinha vazão, perdeu a razão de ser.
Se transformou em ilusão.
A mulher forte, linda e viva se tornou mulambo.
Ultrage humano.
Melhor que não estivesse vestida.
Mais honra teria ao revelar nú corpo seu.
Mas envolta em farrapos e mulambos, enfaixada feito múmia, mulher perfeita morreu.
Morreu, pois se deixou enfaixar por fitas rosa de amor que a opressão veio sublimar.
E dentro de si, numa redoma se fechou. Morreu asfixiada, asfixiada pelos afagos da voz do homem de seu amor.
Muda, múmia, mulher-mulambo.
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