quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Era hora do almoço
O brilho das panelas soava vazio
Nossas barrigas brilhavam
Não tínhamos comida

Meus irmãos e eu chorávamos
Para nossas lágrimas lamber
Sentindo o gostinho salgado da água
Nada nossa imaginação podia deter

Tínhamos lentilha, milho e cuzcuz
Feijão, frango ensopado
Mas passavam poucos minutos
E a fome já tinha voltado

Meu pai ao aluguel pagava a trabalhar
Minha mãe alguma comida comprava
Com toda a roupa da dona senhora
Pra lavar

Mas mesmo com muita roupa
E sempre meu pai sem em casa estar
Não dava nem duas semanas
A comida no armário vinha faltar

Faltava comida faltava roupa
Também lápis caderno e apontador
Não tinha blusa de escola
Tínhamos a rua, nossa casa alugada
E também um pouco de amor

Mas isso não foi o suficiente
Tínhamos que algo fazer
Íamos para rua como indigentes
Tentando algum dinheiro ou comida trazer

Nessas idas e vindas nas ruas
Muitos de meus irmãos se perderam
Foram mortos por policiais assaltando
E por traficantes por à boca ficarem devendo

Eu acabei me esquivando
Muita sorte que tive, concluí
Conheci o ofício dos meus sonhos
Fiz concurso, passei para gari

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