sábado, 6 de setembro de 2008

Vulcões (Florbela Espanca)

"Tudo é frio e gelado. O gume dum punhal
Não tem a lividez sinistra da montanha
Quando a noite a inunda dum manto sem igual
De neve branca e fria onde o luar se banha.
No entanto que fogo, que lavas, a montanha

Oculta no seu seio de lividez fatal!
Tudo é quente lá dentro…e que paixão tamanha
A fria neve envolve em seu vestido ideal!
No gelo da indiferença ocultam-se as paixões

Como no gelo frio do cume da montanha
Se oculta a lava quente do seio dos vulcões…
Assim quando eu te falo alegre, friamente,

Sem um tremor de voz, mal sabes tu que estranha
Paixão palpita e ruge em mim doida e fremente!"

Florbela Espanca - Trocando olhares - 04/05/1916

Nenhum comentário: