terça-feira, 16 de setembro de 2008

Cheguei em casa do trabalho. No ônibus, durante o congestionamento, a pessoa do meu lado assistia à tv através do aparelho de celular. Isso me assuntou, a menina era feia, bem intencionada, mas feia. Mas não me assustou sua aparência, mas sim o celular na tv (ou a tv no celular?)... Isso me lembrou que estou no século XXI. Na metade do seculo passado nascia a televisão. Hoje a televisão está no celular. Isso pensei em frações de segundo, enquanto me esgueirava para assistir ao desenho do Pica-pau no celular da minha vizinha de banco. Eu parecia aquelas pessoas inconveniente que ficam tentando ler o meu jornal durante o trajeto para o trabalho; eu sou chata e fecho o jornal. Receosa que a vizinha feia fosse chata, parei de olhar antes que ela desligasse a enjenhoca de alta tecnologia. Então depois de muito tempo no trânsito, desci no ponto, peguei a moto-taxi e cheguei em casa. Recebi a visita de uma amiga que contou da morte de sua sogra, e ela estava realmente penalisada. Mas como nenhum mal vem só para o mal, o namorado resolveu devido o falecimento da mãe a vender o apartamente, para não ter lembranças negativas, e comprar uma casa. Minha amiga foi convidada para ir junto: proposta de casamento moderno. Ela contou-me isso com sorriso de ponta a ponta. Não sei mais até que ponto se penalisou pela morte da falecida. (Espero que a amiga nunca leia esse texto)
Ela foi-se embora, depois de ter contado detalhes do trágico falecimento da sogra e de ter ouvido de meus dissapores afetivo-relacionais - termo rebuscado que utilizei para dizer que... exatamente, não sei dizer o que aconteceu mas aconteceu algo que não sei dizer ou explicar, mas não é nada saboroso de vivenciar.
Então fui para o MSN e tentei me relacionar virtualmente com as pessoas no intuito de despistar a ansiedade e a inquietação. Não funcionou mas coloquei a fofoca em dia com quase uma dúzia de pessoas. Não satisfeita, decidi escrever um texto sobre o que realmente estou sentindo, e para ser franca, não estou sendo sincera em nenhuma linha do que escrevi até aqui. Isto porquê é fácil falar do século 21 e suas tecnologias, da feiura da mulher e do trânsito da cidade; mais fácil é falar da vida da amiga e do falecimento da mãe de seu namorado, assim como é fácil falar o que não entende de um modo menos cogniscível ainda; difícil é retirar todas as máscaras e cada uma delas, e olhar no espelho diante de si, e olhar pela janela cada um de vocês, e olhar para dentro de si, fazer viagem por dentro e falar daquilo que realmente tem importância. É difícil dizer que há um nó do tamanho do Universo preso na garganta e que também há grito mudo ensurdecedor riscando cada corda vocal que se tem. É difícil pensar que daqui a pouco vou publicar esse texto no meu blog e que me tornarei vulnerável para aqueles que passearem por aqui. É difícil dizer do que sente no coração, do medo de perder, da dor de perder quem se ama, e saber que não pode fazer nada para não perder. Sabe também que está perdida, e que todos estão perdidos na busca de resposta para perguntas que muitos destes sequer fizeram ainda. Sabe que se encontrar é simplesmente saber criar ou memorizar as respostas certas verbalizando-nas no momento certo, convencendo aos outros que você se encontrou. Sabe que ser seguro é apenas convencer as pessoas a sua volta que você é seguro. E aprender que não importa quem você é, mas quem você parece ser. E aprende que aprender isso não te leva a lugar algum, mas muitas pessoas acreditam que sim então você acaba dando valor a isso também para o bem de sua inserção social. Sabe que você começa a refletir sobre a vida e sobre o mundo somente como fórmula de se esquivar de sua vida e de seu mundo. E saber que por estar se expondo demasiadamente terá que somar forças mais que o normal para postar esse texto para o blog. Então vou parar por aqui pois esse texto não é poesia, não é metáfora, é uma prosa intimista, o eu-lírico sou eu, então vou sair daqui antes que seja muito tarde. Ops, já é tarde, pois fui descoberta aqui no meio destas palavras, destas letra. Fui descoberta tentando me esconder perdida no meio dessas frases. Agora não tem alternativa a não ser nunca postar esse texto. Caí em mim, dentro de mim e me encontrei perdida. Não consigo retornar ao texto, não tenho forças. Também me falta vontade de me revelar mais. Vou embora...

Nenhum comentário: