sexta-feira, 4 de abril de 2008

CÁSSIA


Cássia era muito malvada. Desde menininha. Quebrava os brinquedos de suas amigas escondida para consolá-las na tristeza. Também para que se empenhasse com elas no conserto. Algumas vezes chegava a interceder junto aos pais das amiguinhas para que não brigassem com elas pelo misterioso acontecido. A menina não se incomodava com sua atitude. Seu comportamento era muito natural para ela. Cresceu assim.
Ela aprendeu a quebrar para depois consertar, fossem objetos ou pessoas. Era normal machucar alguém indiretamente para depois consolar. Inclusive habituou-se a viver perto de pessoas tristes, deprimidas e infelizes, para ser a diferente entre elas. Ela era os exemplos de felicidade de vida e bondade em pessoa entre essa gente.
Cássia já não sabia conviver com as pessoas felizes. As pessoas felizes ao seu redor a incomodavam muito. Sem intenção elas faziam com que a Cássia descobrisse que era infeliz, que era muito infeliz. Ela não sabia conviver com essa verdade.
Ela destilava discórdia de maneira velada porque assim se fazia a pacificadora das situações. Lidava com os sentimentos das pessoas de maneira calculada, direcionando-os segundo seu interesse. O maior interesse dela era ser uma boa pessoa. Ela era, pelo menos acreditava ser: levava a paz onde havia brigas, confortava pessoas deprimidas e consolava as tristes. Embora fosse ela própria quem semeava as intrigas, enfatizava os defeitos das pessoas e as fazia sentirem-se pequenas, impotentes e miseráveis.
Ela própria que era triste, deprimida e infeliz. Não se aceitava, se sentia pequena, impotente e miserável. Não tinha forças, não tinha brilho, não tinha vida própria. Vivia da vida dos outros para sobreviver. Vivia das sobras da vida dos outros. Migalhas das migalhas.
Precisava sim de outras pessoas. Entretanto em situação mais caótica que a sua, para que a própria fosse amena. Se a vida das outras pessoas não fossem mais caótica, ela se empenhava sobremaneira para “quebrar” para depois consertar. Se não conseguisse, ela deixava de lado essas pessoas que “não sabiam ser ajudadas”, dizia.
Essa foi a solução que encontrou desde sua meninice para sua vida. Viveu assim até os 62 anos. Morreu de parada cardíaca em seu apartamento: cabelos brancos, viúva e bondosa.

2 comentários:

Karla Gregório disse...

PÚTA Q PARIU!!!!!!!!!!!!!

MEU MELHOR TEXTO ATÉ HOJE

TO ORGULHOSA DE MIM

Unknown disse...

Muito bom irmã!
Estou simplismente muito orgulhosa de ti, mas do que nunca é claro!!!!