segunda-feira, 14 de abril de 2008

Maldade de Cássia

Um dia Cássia brincava com Alice. Alice tinha uma pelúcia que não largava. Brincava sempre com o bichinho em seus braços.
Cássia percebeu que aquela pelúcia era muito importante para Alice. Entendeu que sua amiguinha se sentia forte com seu ursinho. E que precisava muito dele.
Cássia se sentiu ofendida com aquilo. Se ofendeu porque era ela que devia ser a força de Alice. Alice deveria precisar dela, não de uma pelúcia idiota.
Num outro dia Cássia chamou essa amiguinha para brincar na praça próxima de casa. Alice levou seu bichinho de pelúcia como de costume. Durante a brincadeira de esconde-esconde Alice deixou seu ursinho cair. Não voltou para apanhar porque precisava se esconder muito rápido. Cássia vendo aquilo teve a oportunidade que esperava para se livrar do bicho.
Fingindo procurar por Alice, que tinha se escondido no muro que cercava a praça, Cássia pegou a pelúcia e atirou no rio que passava atrás da pracinha. A bichinho a princípio não afundou, mas absorveu muita água, imergiu no rio e despareceu.
Alice foi encontrada por Cássia. Por isso ela seria o pegador da brincadeira. Mas antes de recomeçar a brincar se desesperou quando viu que não encontrava mais seu bichinho. Na praça havia outras crianças. Sequer cogitou que a sua amiguinha estivesse por trás da tristeza grande que ela sentia. Estava desprotegida sem o seu amiguinho e irmão; estava sem força, triste e desamparada. Mas Cássia estava lá do seu lado.
Aconteceu o que Cássia esperava: agora Alice precisava mais dela do que nunca. Alice só sentia apoiada e forte ao lado de sua amiga e protetora Cássia.
Ninguém até hoje soube o que realmente aconteceu com a pelúcia de Alice.

domingo, 13 de abril de 2008

Às Vezes (Tradução >>Sometimes<< - Britney Spears)

Você diz que está apaixonado por mim
Que não consegue tirar seus lindos olhos de mim
Não que eu não queira ficarMas toda vez que você chega muito perto eu me escondo
Eu quero acreditar em tudo que você diz
Porque soa tão bem
Mas se você realmente me quer, vá com calma

Há algumas coisas sobre mim que você precisa saber
Às vezes eu corro
Às vezes eu me escondoÀs vezes eu tenho medo de você
Mas tudo que eu quero de verdade, é te abraçar forte
Te tratar bem, ficar com você dia e noite
Baby, tudo o que eu preciso é de tempo

Eu não quero ser tão tímida
Sempre que estou sozinha fico querendo saber porque
Torcendo para que você esteja esperando por mim
Você verá que é o único para mim
Eu quero acreditar em tudo que você diz
Porque soa tão bem
Mas se você realmente me quer, vá com calma

Eu tenho coisas sobre mim que você precisa saber
Às vezes eu corro
Às vezes eu me escondo
Às vezes eu tenho medo de você
Mas tudo que eu quero de verdade, é te abraçar forte
Te tratar bem, ficar com você dia e noite
Baby, tudo o que eu preciso é de tempo

Tudo que eu quero de verdade, é te abraçar forte
Te tratar bem, ficar com você dia e noite
Baby, tudo o que eu preciso é de tempo
Fique por perto e você verá
Não há outro lugar que eu queria estar
Se você me ama, confie em mim
Do jeito que eu confio em você

Às vezes eu corro
Às vezes eu me escondo
Às vezes eu tenho medo de você
Mas tudo que eu quero de verdade, é te abraçar forte
Te tratar bem, ficar com você dia e noite
Baby, tudo o que eu preciso é de tempo
Tudo que eu quero de verdade, é te abraçar forte
Te tratar bem, ficar com você dia e noite
Baby, tudo o que eu preciso é de tempo

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O monstro no armário

Ele tinha um monstro no armário, dizia para seus amigos

Ele não tinha medo, afirmava também

Contava a todos como o monstro era grande e medonho

Dizia como domava o monstro com suas habilidades de luta

Seus amigos ficavam impressionados

Sempre tiveram medo do monstro de seus armários

Eu nunca tive medo, ele revelava aos seus amigos

Somente Ítalo sabia a verdade do seu armário

Não tinha medo mesmo

Mas a verdade é que não havia monstro

Era uma fada que ele escondia no armário

Escondia-na de tudo e de todos

Aquela linda e pequena fada

A amava mais que tudo

Não sabia tê-la senão escondida no armário

Tinha vergonha do que seus amigos achariam dele

Tão valente com uma fada em seu quarto, ora

Então a escondia, a guardava e a protegia

O escuro de seu armário era o templo mágico

dedicado a beleza daquele ser frágil e pequenino

mas que lhe fazia experimentar o grande prazer

da vida e da magia

O monstro não existia


Era uma fada que lá havia

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Criando magia

O sonho foi o seguinte
Eu estava dentro de uma cúpula de vidro que brilhava
Eu me movimentava mas era muito rápido e eu via como em câmera lenta
Eu era uma das milhares de estrelas que também estavam lá comigo
Mas eu era a mãe delas
Ou alguma líder
Elas me perguntavam como fazer a magia acontecer
Eu lhes explicava algo que não me faz qualquer sentido agora
Mas era um conhecimento poderoso e único, que somente eu detinha
Elas me amavam
Elas riam para mim
Também me pediam uma espécie de bênção
Eu lhes dava brilho
O brilho que lhes dava era sempre a mesma medida
Mas cada qual brilhava segundo a intensidade de seu brilho próprio
As cores do brilho variavam conforme a beleza interior de cada uma delas
Cores escuras eram entendidas por mais belas que as cores claras
Eu era de todas as cores
E brilhava com mais intensidade que todas as outras juntas
Mas elas não me invejavam
Aceitavam minha existência e meu ser com reverência
Somente eu criava a magia por si
Elas vinham até mim para eu ensiná-las a criar
A magia era um mistério
Não para mim estrela
Mas para mim agora
Não lembro o significado da magia
O que era esta magia
tão especial
que somente eu tinha
Queria ter essa magia
talvez com ela eu pudesse acordar você, vovô
Uma magia forte que te tirasse desses aparelhos
e que te devolvesse para a vovó
Ela chora sem parar
sempre que os remédios passam o efeito.
Os médicos disseram que já está na hora de desligar esses aparelhos.
Eu não quero
Papai falou que pagará o quanto for necessário para esperar que o senhor acorde.
Queria a magia aqui para o senhor vovô
para o senhor...

Meu brinquedo

Era tão fofo
De plástico
Azul, amarelo e vermelho

Andava
fazia barulho
e tinha luzes que piscavam

Era um robozinho
Lindo
Era brinquedo de menina
Era meu

Gostava muito dele
Levava para a escola
Exibia para minhas coleguinhas

Elas não se entusiasmavam muito
Meninas são muito bobas
Mas os meninos se amarravam

Brincávamos muito
Eu e o meu robô
Todos os dias

Um dia procurei
Ele estava lá
Mas não estava mais

Estranhei aquele objeto
colorido, duro, sem vida
Suas luzes não funcionavam

Andava ainda
Mas o som que saía dele
já não era o mesmo

Não era mas meu
aquele robô
Não sabia de quem era

Então peguei o brinquedo
Que um dia foi meu
Que me divertiu
e alegrou

Peguei o robô
e coloquei numa sacola
Ali juntei outros objetos

Também não me pertenciam mais
Joguei tudo na sacola
Lá embaixo de tudo meu robô estava

Não era mais meu
Era do mundo
Do mundo que ficava pra trás

Do mundo que não acaba
Fica na lembrança
Mas um mundo que também
não era mais meu

Não é de ler - perfil orkut 2008/04

Às vezes falo muito como forma de me esconder. Contudo até meu silêncio me revela.Eu sou uma mulher, às vezes menina. Determinada e segura, às vezes me sinto perdida, todavia.Sou amiga e leal, mas nem sempre dócil. Sei gritar, brigar e ferir se for necessário para me proteger.Nem sempre revelo quem sou ou o que sou capaz de fazer. Dou toda liberdade possível para conhecer melhor uma pessoa. Sou flexível, adoro aprender coisas novas, mas detesto repetição.Sei onde quero chegar, e busco as melhores estratégias para chegar lá.Não gosto de discursos, mesmo os que não são pré-fabricados. Até eles revelam pouco de uma pessoa. A prova disso são os políticos que são exímios oradores, vendem ótima imagem mas a prática é completamente diferente de seus discursos demagogos. Eu desconfio de todos os discursos, inclusive do meu.Sou sim, sou inteligente. Esperta. Mas como minha mãe costuma dizer "esperto demais se atrapalha". Isso é um fato.Tenho uma origem humilde, sou humilde ainda. Mas minha ambição tem aflorado mais a cada dia. Acho isso muito bom.Não gosto de perder tempo com coisas ou situações que não me agreguem algum valor. Não jogo para perder. Não gosto e não quero, mas às vezes é inevitável.Sou dona da minha história, construo meu caminho e sou minha felicidade, mas a vida tem me ensinado muita coisa. Ela tem destruido muitos dos meus postulados e verdades prontas. Preciso das pessoas a minha volta muito mais do que admitiria em público. Tenho crises com o 'amor'. Tenho superado. Cada um tem sua forma de amar, sei. Mas ainda estou criando a minha. Uma que seja compreensível ao ser que por mim seja amado. Se você se deixar levar pelo meu discurso, terá uma imagem distorcida minha. Confesso que seja intencional. Quanto menos vc souber de mim, mais protegida estarei de você.Embora eu passe um ar de completa independência até mesmo frieza, não sou de todo assim. Imagem nem sempre é tudo. Vendemos a imagem que queremos de nós mesmos. Se vc continuou lendo até aqui já percebeu que sou prolixa. Sim, sou. Alguns atribuem isto ao meu signo que é gêmeos. Neste momento eu atribuo ao meu sono. Fico agitadíssima qdo estou c sono. Fui uma criança hiper-ativa. Às vezes a melhor forma de despistar é dizer a verdade. Isto eu li em algum livro. Não lembro qual.Fora todo esse preâmbulo - e a esta altura tenho certeza que meus leitores se reduziram a 15% do total daqueles que começaram a ler o texto - posso dizer para você, que certamente é meu amigo ou gosta de mim ou me percebeu interessante, caso contário não teria continuado a ler até este ponto - às vezes sou sádica -A você digo: sou linda demais, não só por dentro, nem só por fora. Sou linda de uma forma incompreensível até para mim. Pq sou humana, sou sensível, sou razão e emoção num corpo-alma amoroso. Sou harmônica e melodiosa. Sou louca e tenho o juízo são. Não tente, pois não me encaixo nos seus perfis. Não sou perfeita ou santa. Desisti de sê-lo para o bem da minha saúde.Estou além disso. Todo ser humano está além disso se está disposto a isso.Cultuo minha liberdade. Mas meu conceito de liberdade muda constantemente.Hj meu culto é a uma liberdade que me permite fazer TUDO Q EU PUDER, e eu POSSO TUDO, mas nem por isso tudo eu o faço.Sou livre pq posso me aprisionar. Sou livre pq opto em dizer sim ou dizer não. Sou livre pq posso responder com meu silêncio. Em suma, hj liberdade é ESCOLHER.Eu sou assim, me espanto diante do óbvio. E vislumbro o cotidiano como uma caixa de surpresas. O mundo é um grande parque de diversões.Sou fugaz. Se éter tivesse segundo nome seria Karla

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Saída

Saí
Saí de dentro de mim
Saí do casulo e do interior do meu interior... bla bla bla

To aqui
Oi mundo
Oi árvore
Oi pessoas

Ahhhh as pessoas
PESSOOOOOOAAASSSSS
deliciosas
interessantes
instigantes
às vezes frustrantes
mas pessoas
pessoas sem as quais não vivo
pessoas sem as quais não seria eu
eu sou espelho delas
elas são meu espelho
nos refletimos
pessoas amigas
inimigas
feias
bonitas
burras
inteligentes
que falam muito
que não sabem ouvir
que são companheiras
e solícitas
pessoas discretas
pessoas polvorosas
amadas
dotadas
perfeitas
mentira
imperfeitas
pessoas
como eu
como você
como meu pai
minha mãe
e minha irmã
pessoas como meu cachorro Dick
mentira
o Dick não era uma pessoa
meu amigo sim
falecido mas meu e amigo
Saí
Era isso que tinha para dizer
Saí
Mas tenho em mim ainda
meu abrigo
meu porto seguro
minha guarita
brigada
Mas tenho na pessoa o desafio
o risco
o prazer
o amor
a realização
a vida
a criação
a fecundação
a invenção
a paz também
a acolhida
a emoção
a razão
a intuição
a pessoa é cheia disso
e tem mais
então saí
e agora tenho tudo
agora tenho eu
e também tenho você
e isso enriquece minha vida
e se você contar para alguém que eu disse isso...

bom... eu confirmo!

CÁSSIA


Cássia era muito malvada. Desde menininha. Quebrava os brinquedos de suas amigas escondida para consolá-las na tristeza. Também para que se empenhasse com elas no conserto. Algumas vezes chegava a interceder junto aos pais das amiguinhas para que não brigassem com elas pelo misterioso acontecido. A menina não se incomodava com sua atitude. Seu comportamento era muito natural para ela. Cresceu assim.
Ela aprendeu a quebrar para depois consertar, fossem objetos ou pessoas. Era normal machucar alguém indiretamente para depois consolar. Inclusive habituou-se a viver perto de pessoas tristes, deprimidas e infelizes, para ser a diferente entre elas. Ela era os exemplos de felicidade de vida e bondade em pessoa entre essa gente.
Cássia já não sabia conviver com as pessoas felizes. As pessoas felizes ao seu redor a incomodavam muito. Sem intenção elas faziam com que a Cássia descobrisse que era infeliz, que era muito infeliz. Ela não sabia conviver com essa verdade.
Ela destilava discórdia de maneira velada porque assim se fazia a pacificadora das situações. Lidava com os sentimentos das pessoas de maneira calculada, direcionando-os segundo seu interesse. O maior interesse dela era ser uma boa pessoa. Ela era, pelo menos acreditava ser: levava a paz onde havia brigas, confortava pessoas deprimidas e consolava as tristes. Embora fosse ela própria quem semeava as intrigas, enfatizava os defeitos das pessoas e as fazia sentirem-se pequenas, impotentes e miseráveis.
Ela própria que era triste, deprimida e infeliz. Não se aceitava, se sentia pequena, impotente e miserável. Não tinha forças, não tinha brilho, não tinha vida própria. Vivia da vida dos outros para sobreviver. Vivia das sobras da vida dos outros. Migalhas das migalhas.
Precisava sim de outras pessoas. Entretanto em situação mais caótica que a sua, para que a própria fosse amena. Se a vida das outras pessoas não fossem mais caótica, ela se empenhava sobremaneira para “quebrar” para depois consertar. Se não conseguisse, ela deixava de lado essas pessoas que “não sabiam ser ajudadas”, dizia.
Essa foi a solução que encontrou desde sua meninice para sua vida. Viveu assim até os 62 anos. Morreu de parada cardíaca em seu apartamento: cabelos brancos, viúva e bondosa.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Somos capazes

Somos capazes de criar
A realidade que desejamos viver
Sequer precisamos de dados reais
Nossa mente cria
Muito mais ela é capaz de fazer

Agimos no mundo
a partir da fantasia criada na nossa imaginação
E vivemos assim
Sem suspeitarmos
da nossa ilusão

Vivemos nesse mundo
A ponto de viver grande frustração
se descobrimos que o mundo real
diferente é
Daquele que é nossa mais pura criação

Relutamos em enxergar a verdade
Algumas vezes dói muito a verdade ver
Mas somente a partir dessa dor
No mundo real passamos a viver

Ela não pode crescer

Ele era grande
Mas não sabia
Era mais alto e corpulento
Todos os meninos o admiravam pelo seu porte
As meninas, pela sua beleza
Ambos grupos com sua inteligência se alegravam
Era descolado
Sabia sorrir
Fazer sorrir
E sorrir de si
E de seus gracejos e piadas
por vezes sem qualquer nexo
Ela se aproximou dele
Ele deixou
Ela quis beijá-lo
Ele permitiu
Ela foi além
Ele também
Mas ela não era grande
Ela não quis crescer
E de crescer ele não parava
E se descobriu gigante num reino de anões
Um dia ela não pode mais alcançar seus lábios
Era verdade que ela nunca alcançara antes
Ele se cansou de abaixar

Quando acabou

Quando acabou nos olhamos
Não tinha o que dizer
Pois tudo já tinha sido dito
sem uma palavra sequer
Nada havia que fazer
Já não tinha como mudar
Se é que houve chance de mudança
Tudo já estava escrito
Destino traçado
Nós dois já sabíamos
Relutamos em aceitar
Vingíamos não ver
Criamos artifícios
Diversos
para escapar
do que estava predestinado
Não conseguimos mudar tudo
embora desejássemos muito
O tempo executou perfeitamente seu trabalho
Nos distanciando do mesmo modo com que
nos unia há algum tempo
Sem nos dizer olá
Sem dizer adeus

Efêmero

A vida é efêmera
As pessoas o são
A beleza
A amizade
O romance
O amor
O sexo
As prioridades são efêmeras
As frivolidades e vulgaridades também
A fé é efêmera
A dor também o é
Assim como a felicidade daqueles que a buscam
Também o cansaço é
o corpo o é
Tudo passa
Tudo muda
Tudo vai
O sapato folgado ontem hoje aperta
A saia apertada, já está larga
A pele esticada agora tem rugas
O salto novo está desgastado
E a blusa da moda, demodê
A virtuosidade, infâmia
A verdade de amanhã, mentira do hoje
Tudo passa
Há coisas que tornam por aqui passar
A decepção
A desilusão
A confusão
Indecisão

O amor
O afeto
A alegria
A paixão

Nisso nós passamos
e deixamos lembranças
Que o tempo faz questão de apagar

terça-feira, 1 de abril de 2008

ARROZ E FEIJÃO

Eu fui um deles
Saí daquele lugar
Pertenci
Tive a mesma identidade
Mas saí
Não quero mais ser como eles tem muito tempo
Não sou mais
Sequer quero o convívio deles
São arrogantes
São intransigentes
São falsos e hipócritas
São medíocres
Repetitivos
Bestiais
Dignos de pena e misericórdia
São umas lástimas
Enchem os pulmões e batem no peito
Suas verdades mortais
Destilam veneno de seus lábios
Ódio de seus corações
Comprimem seus verdadeiros sentimentos
Ocultam sua face verdadeira,
À sombra se revelam
E a luz que dizem resplandecer são trevas
Densas trevas capazes de aniquilar a mais pura alma humana
São pérfidos
Humilham-se como forma de exaltação própria
São restos de vida
Não andam, rastejam
Mendigam a atenção dos outros por imposição de seus supostos poderes
Poder de deter o conhecimento de causas últimas
Tal poder atribuído ao ser ontológico
Distanciam-se da Vida
Matam Eva
Fui um deles
Que lástima
Que miserável fui quando adentrei pérfidas habitações
Onde se exulta o ódio ao mundo e o amor ao além
Ódio ao mundo e ao pecado
Amor fingido ao pecador: agressão verbal e opressão moral
Não sou feijão
Nasci arroz

Apresado*

Ele tinha muita pressa
Corria
Fazia tudo com perfeição e agilidade
Todos os dias se atentava para não deixar lacunas
Mesmo assim deixava a desejar em alguns aspectos
Mas não se atemorizava
Persistia na sua corrida
Fazia tudo
Todos os dias
Com cuidado, mas muita pressa
Queria chegar lá o mais rápido possível
Tinha tanta pressa
Que não percebeu que lhe faltava algo
Não sabia aonde estava indo
Não sabia em que lugar queria chegar
E toda sua energia
Muita energia
Empregada
Foi inútil
Não tinha alvo
Não tinha objetivo
Não tinha meta
Mas não sabia
Por que estava apresado demais
para perceber

Amarelina

Amarelina era uma menina muito recatada. Vivia num bairro comum na zona leste de sua cidade. Estudava perto de casa e tinha muitos amigos. Ela brincava com seus amigos, mas sem muito alvoroço, com poucos risos e nenhuma gargalhada.
Os anos passaram e Amarelina concluiu seus estudos fundamental e médio. Então logo saiu em busca de um emprego para que contribuísse nas despesas de casa. Sua mãe era doméstica e seu pai era motorista de ônibus. Os rendimentos dos dois juntos permitiam apenas que sua família não passasse fome.
Ela conseguiu um emprego de atendente numa lanchonete no centro da cidade. Ali via muita gente. Pessoas apressadas passavam de um lado para o outro. Algumas paravam para tomar o café-da-manhã ou fazer algum lanche. Nenhuma deixava-lhe qualquer gorjeta. Isso a entristecia.
Havia outra coisa que há muito tempo realmente incomodava Amarelina. Era seu nome. Seus pais nunca souberam explicar o porque deste nome. Ela chegava a se enxergar amarela no espelho, embora tivesse a tez morena. E isso lhe trazia inquietação, pois amarelo era a cor sem cor, sem graça, sem sal, sem vida. Mas isso pensava de vez em quando, principalmente nos momentos em que a lanchonete estava vazia e ela se punha a varrer a frente do estabelecimento.
Num dia quente de sol radiante, ouviu uma conversa no balcão da lanchonete que chamou sua atenção. Duas pessoas falavam sobre como mudar o nome de batismo, ou seja, o do registro de nascimento. Era um trâmite jurídico, mas viável. Amarelina ouvia tudo, discreta e atenta. Desde aí passou a imaginar um novo nome para si. Algo mais vivo e mais interessante, que pudesse conferir mais vida e cor a sua pacata vida. E pôs-se a pensar a respeito.
Depois de uma semana teve um sonho. Sonhou que estava numa boate dançando com um vestido amarelo radiante e dançava com sapatos de salto. As pessoas se deslumbravam com sua leveza e brilho. Um belo rapaz chegou até ela com um sorriso e convidou-a para dançar. Ela aceitou e a música se tornou lenta e romântica. Ao final da dança o rapaz perguntou o nome dela, e ela respondeu: Raio de Luz.
Quando acordou o sol a incomodava pela janela do quarto. Ao olhar as horas viu que estava atrasada. Mas não se preocupou. Estava ainda sonolenta e prazerosa pelo sonho que acabara de ter. Não pensava no rapaz, e sim no seu novo nome. Que era um sinônimo para o nome atual dela, uma outra face do nome, uma nova face de si. Raio de Luz abriu um radiante sorriso e pulou da cama.
Ao chegar ao trabalho, foi chamada para falar com o gerente da lanchonete. Ao entrar na sala sorriu maliciosamente, como quem tinha um segredo e não iria revelar, mas permitiria que fosse descoberto, e disse bom dia. A malícia do sorriso não impediu que ela recebesse uma chamada. Entretanto, isso em nada abalou seus ânimos. Era outra pessoa, uma nova mulher.
Ao passar pela rua era como se a vida toda até aquele momento tivesse visto as coisas em preto-e-branco e somente agora enxergava as cores do céu, do sol, das pessoas. Era tudo muito lindo e estimulante que dava a ela um prazer incomensurável. Raio de luz experimentava pela primeira vez na sua vida o sabor e a cor da felicidade.

28/03/08