sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Propositadamente colocava a mão na tomada. Levava choques fortes mas suportáveis. Gostava de colocar a mão lá embora já soubesse o que lhe iria acontecer: mais um choque. Aquilo era sofrimento. Sofrimento controlado, procurado e provocado. Era susto e expectativa do choque que procurava. Sabia como iria acabar, poderia ser diferente, mas não conseguia fazer de outro modo. Ligava a eletricidade da velha casa e começava a colocar os dedos em todas as tomadas. Revezava para saber qual era o fio neutro e aquele com corrente. Adorava a expectativa da dor e do sofrimento. Vivia na mesma casa desde pequeno, onde sofrera ao ver seus pais brigando, quando ainda era de colo. Sofreu quando se separavam e por fim sofreu quando viu seu pai esfaquiar sua mãe e fugir. Nisso já era adolescente. Cresceu na mesma casa. Hoje é pedreiro e alcólatra. Sua vida foi marcada pela dor e o sofrimento. Não consegue nutrir qualquer relacionamento. Seus amigos são os que com ele se aglomeram no chão do bar. Sua vida é encontro com o sofrer, o que o faz sentir-se vivo. Dor é o sentimento que traz para ele a lembrança da família.Então sofre e busca esse sofrimento, levando choque pelo corpo. Seu modo de se realizar enquanto pessoa e de existir.
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