domingo, 23 de novembro de 2008

Domingo. Mais um domingo. Mas não é do domingo que quero falar. É do jornal que vou ler daqui a pouco. E daquilo que vou ler, que vai mexer comigo e me instigar. As notícias de sempre, semana após semana.
Talvez eu escreva um texto para tentar fazer algo, algo por mim. Pelo menos compartilhar e me livrar de parte desse sentimento. O sentimento de impotência ante as injustiças, o que é frustrante.
Discuti hoje com minhas amigas, Priscilla e Josimeri. Discutimos juntas injustiças, as medidas políticas, o posicionamento das entidades privadas, a propriedade privada e a participação do indivíduo em sua formação enquanto ser social.
Queria ser tão insensível quanto tentei mostrar ser, e achar tão natural quanto meu discurso tentou nos persuadir. Não queria me importar mais com isso. Queria ler o jornal e não entender o que está escrito nas linhas e entrelinhas. Ou queria entender, mas de um modo conformista que quando eu dissesse para mim mesma "o mundo é assim mesmo", eu desse de ombros e o meu estômago parasse de fervilhar. Queria achar o mundo normal e que existir pessoas sem lar e sem comida sobre a mesa é a coisa mais natural. E após a leitura levantar, pegar minha bolsa e fazer compras no shopping num domingo nublado. Queria que eu fosse assim. Queria não me sentir comovida e compelida a acreditar que algo precisa ser feito. E logo em seguida não queria me sentir tão pequena, incompetente porque não sei o que fazer.
Talvez precise de uma ideologia urgentemente. Qual ?

"Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro...

Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma prá viver
Ideologia!
Prá viver..."
(Ideologia - composição: Cazuza/ Roberto Frejat)

Quem sabe eu seja esse garoto que queria mudar o mundo. Pois realmente já quis e acreditei que o faria, e mesmo que não conseguisse morreria tentando. Talvez agora eu esteja caminhando para cima do muro.
Onde estão meus heróis? Quem são os meus heróis? E os teus? Quem são e onde estão?

O que tem sido feito para melhorar? Melhorar o quê!? Já te digo. Eu não preciso me esforçar para responder. Levanto e olho na janela: alguns problemas estão ali expostos na minha frente. A começar pelo Ciep Hélio Smith onde crianças na terceira série primária não sabem ler e escrever. A direita está o Batalhão da Maré que suscita a pergunta: "quem são mesmo os criminosos?". Se adentrar ruas e becos verei armamentos pesados de guerra, e com algum azar o uso dos tais. Sem falar na venda explícita de entorpecentes. No meio do caminho verei bêbados, drogados e muita criança com os pés no chão. E queira você acreditar ou não, são pessoas de bem. E ainda mais, pense, são em parte esses bêbados e drogados que educam as crianças da terceira série do Ciep que não lêem e não escrevem.
Quem são os culpados? O governo? Os pais? As professoras? A polícia? Os traficantes? As crianças? Eu e você? Importa quem sejam os culpados? O importante é solução. Medidas concretas e eficazes.

Não quero que me falem das Ongs e dos Projetos ou das Ações de Cidadania e Movimentos Sociais. Quero que me falem de resultados. E que me convençam que há realmente um porque acreditar em mudança. Façam isso, por favor. Quero ver meu ceticismo derrubado. Quero não ter razão e estar completamente errada quando me esforço para aceitar a vida como ela é.
A verdade é que não vou me conformar, mas também não aceito ficar descrevendo os problemas e apontando culpados ou ouvindo Cazuza, Rappa e Charlie Brown Jr e não fazer nada.

"É assim que é...Eu vou mudar, tudo que não me convém
Hoje tenho tudo que podia querer mas,
Dinheiro não é tudo tenho muito a fazer.
Quem não respeita o pai, não respeita ninguém
Porque um homem de verdade vai ser pai também,
Ame o seu pai, mesmo se ele for um porco capitalista."
(Não uso sapato - Charlie Brown Jr _ Composição: Chorão, Marcão, Champignon e Pelado)

Tinha desistido de falar desse tema, mas não é assim que se decide sobre o que escrever. Favela, injustiças e todo esse blá blá blá são repetidos em jornais, blogs e TV todos os dias. Programas de humor, novelas e seriados na mídia abordam esses temas e os tornam cada vez mais acessíveis e menos levados a sério. A abordagem massiva desses temas sugere que é realmente normal o que acontece. "Olha lá, na TV aparece igual acontece com nós aqui!"
Verdade é que o assunto está na moda. Assim como é chique e confere status participar de algum projeto social em alguma favela ou morrinho por aí.
Não me importo que isso aconteça, mas concomitantemente é necessário fazer e executar soluções. As medidas concretas das quais falei acima. E nisso surge a mais importante razão de ser deste texto. Eu não tenho a resposta. E sei que sozinha não vou conseguir. Mas se eu conseguir fazer com que uma parte de quem está lendo pense a respeito. Talvez não hoje, mas em algum momento a solução surgirá. Não de mim, não de você, mas da gente. Sozinho ninguém faz nada.
Pode ser que o que você esteja lendo seja em parte aquilo que você pensa, e te incomoda também. Principalmente o fato de não ter em mãos um livro que tenha as respostas prontas para os problemas do mundo. Mas se estamos conscientes que o modo como está não nos satisfaz e que não temos a solução ainda, já temos a metade do caminho para encontrá-la.

Bom domingo a todos.

Karla Rodrigues Gregório

Nenhum comentário: