segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Relatório de férias: a viagem sem fim

Tenho a sensação de viver a vida me testando a todo momento . Impondo-me limites e ultrapassando-os para ver até onde eu posso ir!
Às vezes me passa pela mente que sou cruel comigo mesma, porque não me poupo dos choques e conflitos. Nisso percebi o quanto sou corajosa. Confronto-me comigo mesma por dentro, e agora "por fora".
Acabo de chegar de uma viagem. Não saí do Rio de Janeiro, nem da comunidade onde fica a minha casa. Mas voltei de umas férias curtas se falarmos de tempo, mas extensas se o conteúdo for analisado.
Vi muitas paisagens novas, e me arrisquei a sair do "carro" e tocar e ser tocada pelos encantos dos lugares por onde passei. O que é novo me fascina. A trajetória da viagem foi riquíssima em novidades.
Me senti como num Mundo Novo! Pessoas e hábitos novos me deslumbraram. Sem referencial, mal pude fazer juízo de valores ou analisar criticamente o que se passava, enquanto acontecia. As coisas apenas aconteciam.
Algo que me chamou a atenção foi o fato de toda essa paisagem ter estado sobre meus pés e sob a ponta do meu nariz e eu não tê-la visto. Sempre esteve aqui, mas não enxergava. Me fechei para o mundo, meu mundo, lugar onde eu nasci, cultura que circundou minha cultura particular.
Fiz a viagem sim. Me arrisquei sim. Saí do casulo, saí da caverna, saí da toca! Fui lá fora, aqui fora, e toquei o mundo... e abri minhas veias e artérias para serem tocadas. E foi bom! Recompensador!
Sou normal, fui normal, somente mais uma entre as diversas meninas da favela, de mini-saia, que freqüentam baile funk e rebolam até chão. Que saem com meninos, beijam na boca e até transam! Fui e fiz, bebi, amanheci na rua. Vaguei sem rumo com rumo certo: lugar algum.
Foram alguns meses: seis meses, um semestre! Aprendi muito mais que durante anos da minha vida que estive debruçada sobre os livros ou em que estive refugiada nas muralhas seguras da igreja cristã. Ou ainda, aprendi mais da realidade nua, dura e crua fora do limites protetores do meu lar e longe dos abraços calorosos de minha mãe. E a falta que esse último me vez é a única coisa que me faz lamentar. Mas foi um sofrimento válido, criativo e resignificativo para minha vida, minha relação com o mundo, com minha família, meus irmãos em Cristo, meus amigos e meu Deus-Pai.
Uma viagem sem volta, possa afirmar. Jamais voltarei para o ponto de partida. Mas também não puderia me instalar definitivamente nesse mundo que não é o meu de fato. Nâo me adiantaria muito tentar ser quem não sou.
Durante essas férias pude ver quem não sou. Nâo sou normal, não sou comum. Não sou uma menina da favela que usa mini-saia beija, transa e rebola até o chão. Não sou apenas isso. Sou mais, muito, muito... muito mais.
Sou esse texto, sou essa reflexão, sou essa música que ouço agora na voz de Zizi Posse "Haja o que houver". Sou a batida do pancadão do funk e também o soar da bateria da Mangueira. E confesso, sambo muiito bem, obrigada!! (risos) Sou mini-saia também e beijo na boca e desejo sexual - libido! Mas não apenas isso. Sou uma alma que irradia luz e vida por onde passa. Se você acredita em Deus, saiba que sou uma pontinha do céu aqui na terra ou um anjo, como quiser. Sou paixão pela vida, pela experiência suprema de viver. Sou...
Quando fiz as malas para viajar não sabia quanto tempo estaria fora. As coisas aconteceram com certa autonomia e reconheço que tive pouco controle sobre fatos e a ordem em que se sucederam. Fui, apenas isso.
E quando menos esperava, a viagem foi chegando ao fim. Como disse, não voltei ao ponto de partida. Desci numa outra estação, mudei o transporte, estava de carro e retornei ao trem - natural em viagens! - e minha bagagem não é mais a mesma. Tem coisas que ficaram que jamais irei rever ou reviver. Também tem coisas novas, que prosseguirão comigo, apenas não sei por quanto tempo!
Meu caráter e alguns valores permaneceram intocados. Depois dessa viagem me sinto mais disposta a carregar essa nova bagagem pela estrada de minha maravilhosa vida. Sei que embora a viagem tenha acabado, ela nunca terá fim. Sei também que não irei me poupar de novas "aventuras", quer ameancem novamente minha integridade física, emocional e espiritual, por que não!?
Sou aventureira nata! Uma curiosa irrecuperável! Um sedenta pelos porquês dos porquês!
Mas pode deixar, que também na próxima aventura meu blogg tratará de deixar exposto para os interessados. Afinal, melhor do que fazer algo legal e fazer e contar para alguém, !!
Fui...

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