sábado, 20 de outubro de 2007

Não leiam, não se interessem, menos ainda se deixem enganar

Não leiam livros de Eduardo Galeano. Não os leiam para não terem o sono, a paz e a tranqüilidade roubados de suas vidas.
Não se interessem por seus livros, para que o olhar dos senhores para a história não mude. E continuem a enxergar tudo cor-de-rosa.
Não se deixem enganar com sua maneira clara, subjetiva e poética de escrever sobre "tudo". Realmente, o que ele quer é que saibamos dos vieses das ditaduras pela América Latina.
Se o lermos, nos interessarmos por seus livros e nos deixarmos enganar por seus instigantes escritos, estaremos sendo seus cúmplices na quebra da lei do silêncio imposta pela ditadura há tempos.
Se além de tudo isso, ainda indicarmos sua leitura para nossos amigos e familiares, tão maior será nossa culpa. Aqueles que lêem seus textos enxergam "As veias abertas da América Latina" e não é uma reconfortante visão. E buscando acalanto em seu "O livro dos abraços" o que teremos será todos os nossos ossos esmagados pelos braços da verdade. E se numa nova tentativa buscarmos cura e ressurreição em "O nascimento" seremos surpreendidos mais uma vez. Encontraremos a morte daqueles que diferente de nós, não queriam viver suas vidas na paz e tranquilidade de um mundo cor-de-rosa fabricado por discursos em preto e branco e imagens falaciosas, e por isso pagaram preço de vida.
Então não leiam Eduardo Galeano. Não o leiam, para que permaneçam com suas vidas intactas, na mesma rotina, no mesmo fluxo. Envolvidas com as mesmas conjunturas econômicas, sociais e políticas de justiça e igualdade, não é verdade?Não leiam Eduardo Galeano. Não permitam que o "cosmo" dos senhores seja abalado pela verdade insuportável que nos remexe por dentro. Muito menos permitam que o precioso tempo que dispõem seja ocupado com a idéia inquietante: é necessário que algo seja feito... E continuem livres de tudo isso, presos ao sistema. Sim, e assim tudo ficará como está: todos iguais perante a lei, a lei sendo cumprida e a justiça do homem plena, somente aguardo a que virá de Deus. Não é assim que vivemos? Então não leiam Eduardo Galeano!

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