Minha avó deu para minha mãe que me presenteou quando fiz 15 anos. Desde pequena já tinha ouvido falar daquele livro. Já pertencia à família havia décadas. O "Manual da Boa Moça". Um livro mais espesso que a Torah. Continha todos os mandamentos de uma boa menina. Li-o dali em diante. Meditava nele todos os dias e todas as noites. E seria sempre uma boa menina, boa filha, mulher casta e esposa leal. Era isso que o livro ensinava. Seria uma boa moça na juventude e uma casta mulher na idade adulta. Assim seria feliz como mamãe que já estava casada havia mais de 25 anos. E vovó que morreu ao lado de meu avô.
Mulheres perfeitas, submissas, cuidadoras de seus lares. Mulheres virtuosas, com valor excedente ao de rubis. Seria feliz assim. Dona-de-casa, mãe de meus filhos e esposa de meu marido. Fiel.
Um único homem na vida. Dócil, recatada e submissa. Assim seria eu. Assim seria eu se não fosse odiar o fato de meu avô e meu pai terem tido diversas amantes. E também ao fato de sempre terem deixado suas mulheres sozinhas trocando-as pelas bebidas dos bares com os colegas. Ou de sempre afirmarem que graças a eles é que elas viviam pois não trabalhavam. Eu seria assim se não lembrasse das lágrimas da minha mãe no Natal quando o papai não estava lá, mas sempre viajando, sempre trabalhando. Seria assim. Mas não sou. Não fui. Não vou.
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