domingo, 28 de dezembro de 2008

Apocalipse

Procurei por ela nos meus textos, nos rascunhos, no blog, nas arquivos de word. Não encontrei. Pensei onde ela teria ido. O lugar dela era ali, cristalizada em contos, não a vagar pela realidade. Aquele tipo de mulher não poderia estar a solta por aí. Perigosa demais, mulher demais. Por isso que sempre a contive nos textos, frutos de mera imaginação. Mas de algum modo escapoliu, saiu, fugiu. Se libertou da prisão que lhe dei por lar. Sumiu. E demorou até que a achasse. Encontrei-na linda, perfeita, forte e como sempre desafiando-me. Olhou-me de frente, encarou. Não desviou. Ousada, me fitou. Ali no espelho, se revelou. A mulher ganhou vida, era a própria vida, nunca mera imaginação.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Mentiras

Talvez quiséramos ser aqueles
Seres nobres e austeros
Acima do mal e repletos do bem


Mas não é assim
Somos seres humanos
Osso e carne

Para além da alma
Está o desejo
Antes do amor, se esconde a paixão

Não existe apenas sim ou não
Nuanças entre ambos estão
Talvez, precisão

Incoerência

Cortejo sua ausência.
Deleito-me na sua falta.
E vivo, sem você, o amor impossível de viver contigo.
Não preciso de você, pois tenho sua imagem, sua lembrança.
Isso me é suficiente para viver o platônico amor romântico que sempre desejei. Sempre tive.
Na inviabilidade da sua própria existência, o amor nasce.
Cresce na ausência, padece na liberdade da qual se alimenta.
Amor não existe.
O que existe é o desejo de amar.
Como não é possível, o amor é eterno.

MEMÓRIAS DE MIM

Sentei com minha amiga num restaurante de frutos do mar. Sentei-me e pedi aqueles croquetinhos de camarão com catupiry e a taça de vinho português. Começamos a conversar. Lembranças me vieram. Monopolizei o diálogo. Lembrei-na e lembrei-me do quanto fui danada. Sim, uma grande menina levada que fui e, não raro, sou. Lembrei que gostava de apertar o bumbum dos garçons, lembrei que numa situação perdi a aposta e ganhei R$45: tive que dançar sobre a mesa de um quiosque. Lembrei que num Reveillon fui a única das amigas que quis brincar de salada mista com apenas dois meninos, beijei os dois. Lembrei que me apaixonei pelos meninos mais inteligentes e rebeldes da faculdade. Sim, lembrei que naquela época não acreditava em amor. Percebi que não mudei lá grandes coisas. Lembrei que tinha medo de me tornar o que hoje sou: mulher, independente e solteira. Chorei. Chorei, pois foi a escolha que fiz. Não se pode ter tudo. Eu escolhi por mim e fiz o que a razão ordenou. Desprezei minha emoção. Sorri logo em seguida, pois amei e fui amada diversas vezes. E era assim como minha amiga casada - feliz, plena e realizada. Quis abraçar o mundo, não consegui. Apertei-lhe as mãos. Embreagada de lembranças, peguei o táxi. Fui para casa. Dormi nos braços de Cláudio, eterno meu amor.

Tijuca, RJ
Restaurante Umas e Ostras - 17/12/2023.