A flor estava no jardim da casa de Marta.
Não sabia que estava num jardim.
Sabia poucas coisas. Mas começou a murmurar:
"Como eu falo! Como falamos!
Eu quero o silêncio. Eu quero o Nada e o descanso."
Vida, que era o nome da flor, estava tendo um de seus momentos de exasperação. E continou:
"Eu quero sair desse instante que não existe mas no qual estou eternamente dentro. Quero a plenitude dos tempos, a eternidade livre e solta."
As outras flores, as rosas e as plantas se dividiam. Algumas silenciavam para ouvir suas palavras pouco compreensíveis. Outras meneavam a cabeça desaprovando Vida em seu louco ato, julgavam-na. Mas ela não ficava tímida. Na verdade parecia que só havia ela naquele momento e aumenta o volume da voz:
"Por isso quero cair. Quero cair num abismo sem fim, mas não para sempre. Quero experimentar o outro. Quero o Deus. Aquele amigo que me trouxe aqui e cuidava de mim sempre."
Cibele, uma margarida gorduchinha, pergunto a Vida o que acontecera que a deixou tão agitada daquela forma. Dizendo aquelas coisas que eram tão difíceis de compreender. Vida respondeu:
"Eu senti ontem a existência, tive consciência. Saí de mim e voltei, eu estava lá. Não me vi, mas eu saí e voltei. Foi bom. Sensações. Emoções."
A margarida não conteve o riso de canto da boca, então chorou de rir. Mas isso Vida sequer notou e continuou seu discurso ao infinito em tom de desapontamento:
"Não mando em mim. Eu não quero ser sincera agora. Não vou falar sobre o que deveria - o que é relevante agora. Vou fingir e fugir. Vou embora"
Cibele já tinha parado de rir. Estava concentrada ouvindo o que a outra flor falava. Mas Vida silenciou. Logo em seguida já estava falando da velha borboleta Úrsula. Sim, já fofocava com a orquídea Lua!
Entretanto, a margarida Cibele estava compenetrada.Tentava organizar todas aqueles palavras soltas. Eram como as folhas da amendoeira quando voam no outono.
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