Olhar a rua através do portão de casa é ver os antagonismos de uma realidade cruel em que a pluralidade dos indivíduos é visível mas ignorada. A grandes curstos se busca uma sociedade homogênea em sua cultura, em sua biodiversidade.
Vejo funk, maconha, motos, carros "talvez" roubados, moças jovens, roupas minúsculas, sentido de vida aquém (além?) da minha compreensão.
Jovens, muitos meninos sem "rumo certo", que não se preparam para um amanhã. Vejo corpos, meu preconceito diz que ali não há almas, apenas corpos vazios da 'humanidade', conceito que alguém criou. Conceito de uma humanidade que não lhes é dado ter.
Sinto-me vazia também, isolada nesse mundinho do pensar e refletir. Sinto-me sozinha nesse modo particular de enxergar meu habitat e perceber que de todo não pertenço a esse espaço aqui.
Não digo que não pertença a este chão, a esse aterro sobre a Maré. A isto pertenço sim! Mas não pertenço a essa dinâmica que não sei onde aprendi a rejeitar.
Dinâmica da sexualidade vulgar e escancarada, das intrigas entre meninas pelo sexo que um dos "meninos" lhes oferece. Além do status do "cargo" que ocupa e do "ferro" que segura para desenvolver o trabalho pode lhes conferir.
Essa dinâmica inclui também a coisificação da mulher nas letras de funk e da profanação do dom de ser mãe. Os filhos não são planejados, apenas pelo habitual descuido eles vêm.
Nesse emaranhado de situações estão as drogas, os conflitos familiares e afins, em que os juízes daqui são provavelmente menos corruptos e mais ágeis que aqueles do asfalto que exercem a função sob a égide da Lei. Também a isso não sei me submeter.
Se eu fosse relatar todos os pormenores dessa dinâmica, ficaria exausta de tanto escrever.
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