segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Mais uma vez, Clarice

Minha blusa branca linda que eu amo e adoro não voltou da lavadeira.
Ela levou minhas roupas e ao entregar veio faltando minha blusa.
Fiquei fula da vida. (eufemismo em homenagem ao meu ex-peguete que não suporta palavrão. é, eu sei, mais um viadinho para minha coleção.) Mas voltando ao fula da vida... Liguei para ela às vinte e três horas da noite para saber da tal blusa, pois afinal desejava trabalhar com ela no dia seguinte... (isso é mentira, foi um pre-mal-texto. todavia duvido que tenha notado.) Ela disse que essa blusa ficou lá (com ela). Perguntei pelo alvejante especial para roupas - aquele que não deixa o branco amarelado. Ela simplesmente disse que tinha devolvido. Eu disse, não. Você devolveu o sabão em pó líquido para roupas delicadas. Aí, de repente, ela lembrou que realmente não tinha devolvido. Uuuuurrrhhhhh que raiva!
Bom, minhas roupas brancas ficam amareladas. Por isso comprei o tal alvejante seguro, para que a sujeita não usasse "croro" nas minhas roupas. Talvez o alvejante sem cloro seja de uso comunitário lá para as bandas dela. Minha roupa, sua roupa, roupa dela. Se ela ainda tivesse intimidade comigo, se lavasse minhas calcinhas, supertaria tal atrevimento. (Esse é meu sonho de consumo: ter uma secretária, empregada, governanta, tia, amiga, marido... chame do que quiser! que lave minhas calcinhas para mim. Outra alternativa seriam calcinhas descartáveis very cheap...)
E porque o título desse desabafo "momento dona-de-casa" tem no título Clarice? É pq não raro ela escrevia sobre essa espécie de trabalhadores, essa linhagem, esses seres vindos do além, às vezes, do céu, mais freqüente do inferno. E por que escrevia?? Porque não há coisinha mais dificil de se encontrar de qualidade... Tenho que começar a mentalizar minha governanta/ meu mordomo desde já. Ainda não tenho numerário que comporte a mim e a ela/ele. Mas já tenho que implorar clemência e benevolência aos céus por um ser abençoado, que lave, passe, organize, lave minhas calcinhas e ainda me dê chá quando estiver gripada.
Confesso que minha projeção profissional, meu impulso e minha motivação para o sucesso são em função dessa pessoa, seja quem for. Trabalho e me empenho por mim e por este ser vindo dos céus para mim (creio, faço prece, oferenda, missa em atenção, penso positivo q assim será).
Quero produzir muito dinheiro (não necessariamente trabalhar muito, assim...) para poder ter o prazer de ter alguém como descrevi acima. Mas que use alvejante seguro nas minhas roupas brancas, que não as deixe amarelada e que não gaste todo impulso telefônico)... e o principal, não conte para meu namorado que o personal trainner dá três dele, é solteiro e vive me convidando para um chopp!
Então, Clarice, nossas similaridades não estão apenas na escrita (eu juro que não te copio!) mas até em parte na biografia! Aff... Desculpe-me mas vou escolher uma nova autora predileta. Bom... uma mais simpática, que tenha tido um moreno alto que levavaa café-da-manhã na cama e que não se importava de dormir no outro quarto, que não tenha tido filhos e que não tenha casado com diplomata.
Sei que sua biografia foi importante para o que você foi e para aquilo que produziu, e sabemos que admiro ambos. Mas chega né. Admiração é uma coisa, outra coisa é ficar levando as historinhas tuas para casa...

...Acabei de advinhar, Clarice, nosso amor acabou. Depois de tudo que vivemos juntas, vejo que é hora de seguir meu caminho. O que tinha para tirar de ti, já é meu. O que não tirei, não me tem valor. Obrigada, vou procurar um novo amor.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Vereda de mulher

Tenha misericórdia de mim, Deus.
Piedade e compaixão.
Sou mulher, feita da costela de Adão.
Vida recebi pelo teu sopro, não me afaste de tuas mãos.

Não posso negar minha humanidade, pois anjo sabemos que não sou.
Santa sequer tento ser, Maria mãe de Jesus, esta era santa?
Só o senhor pode saber.

Mas sou Maria, aquela Madalena, que chorou aos pés da cruz.
Chorou arrependida de seu pecado.
Pecado de nascer mulher em vida, mulher que é pura força e pouca luz.

Não quero ficar no escuro, nem meu lado obscuro negar viver.
Quero viver a vida em plenitude, me fizestes mulher.
Dá-me permissão para ser.

Não posso negar a força que há no meu ventre
Feito para gerar luz
Aumenta a minha luz que é pouca
E pelo caminho estreito da vida, por essa vereda, Misericórdia!, me conduz.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Meu senhor

Ele manda em mim
Diz quando chorar
Me diz quando rir

Meu desejo ele sabe manipular
Quando quer, desejo sem saciar
Quando não, a libido não sabe se manifestar

Se estou feliz, com amigos a brincar
Ele dá sinal, eu dou meia volta e me ponho a lastimar

O céu que era azul claro, começa a negrir
Saio correndo, chuto uma lata de raiva
Brigo com minha cara, sou brava e ruim

Mas de uma hora para outra
Meu humor já está a mudar
Ele manda, eu atendo, felicidade está no ar

Aí eu canto, abraço, faço risos aparecerem
Faço mais amigos
Pulo e me agito
Maneira nada constante de ser

Meu senhor, meu hormônio,
Sei lá o que será de mim
Você me manda, só te atendo
Não digo não, nem digo sim
Sou sua escrava
Não tomo decisão por mim

Mais uma vez

Mais um início
Novamente outra vez
Olhares inseguros
Toques temerosos
Vozes receosas
Mais uma vez o amor
Mais uma vez ele dança com a paixão
Flerta com a razão
Faz fibrar tanta emoção
Que os olhares se desviam

As mãos se firmam
A ânsia vem forte
De se entregar e de fugir
Mais uma vez
Outra vez
A música voltou a tocar
O sonho a despertar
E as nuvens tocarem ao chão

Mais uma vez
Mais uma dança
O amor, a paixão e a razão
Eles bailam
Desta vez cheios de intimidade
Ensaiaram os passos antes
Mas arriscam piruetas por sua amizade

Já se confiam mutuamente
Os olhos já sabem a alma revelar
E o corpo que antes se fechava e fugia
Está pronto para se deixar tocar, sentir, amar

Homem e razão

Eu penso e você sente
Eu sou homem, você mulher
Te quero ao meu lado, símbolo do meu poder
Você me quer amar, eu simplesmente te ter
Não amo, só tenho vontade

Você, vontade de sentir
Sentir novamente meu toque, minha voz
E meu coração a pulsar em ti
Não sou quem eu gostaria de ser

Sou homem assim como você
Sou razão que não dá espaço para emoção
Irrigar meu corpo, meu coração só tem essa função
Não sei sentir

Finjo que amo, para ser igual a ti
Mas não consigo mais mentir
Então fujo do teu amor que me sufoca
E me ausento de mim

9/2/9 Karla Rodrigues Gregório